De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Máquina do Tempo

Minha merecida folga. Após meia tarde de pintura, uma paradinha numa lancheria de Gramado para escrever. Tenho duas horas para relaxar aqui, vamos ver no que vai dar. -Detalhe: revendo prioridades do momento, creio que ficarei quase um mês sem retornar, veja mais: Na montanha.
A questão é que nunca um bom pensamento terminará em si mesmo. Quando alguém para, afim de pensar seriamente em algum assunto, essa reflexão dará para assuntos ligados, assim como a afluente dá para outro canal d'água mais caudaloso e assim por diante. Geralmente, ao iniciar algum assunto nesse blog, acabo escrevendo pelo menos duas ou três postagens como conseqüência... e aqui estou eu para, novamente, falar de história.
O que tanto nos fascina no passado? Vejo legiões, com olhos brilhando, sonhando um sonho medieval ou romano, almejando navegar junto aos argonautas ou vislumbrar a vida urbana de alguma grande cidade egípcia. Mas, por que o passado se torna tão chamativo, se no presente culmina todo o desenvolvimento humano de milênios e, supostamente, não há nenhum homem maior do que o homem moderno? De fato, nem sempre houve tanto interesse com o homem antigo como hoje há. Até bem pouco tempo, umas poucas décadas, a situação era invertida, o futuro era a "menina dos olhos" do homem, que o encarava como um reencontro do Paraíso Perdido, o novo Éden, o período de ouro da humanidade, a encontrar a plenitude da tecnologia e do bem estar, resultando em longevidade e extrema alegria.
Quando o homem via no futuro a esperança de reencontrar sua natureza genuína, fundamentava-se na explosão tecnológica -que de fato ainda existe- e, muito mais, na inerrância dos líderes. A ciência cética caminhava à passos largos e sem grande oposição, a sociedade se desenvolvia e fundamentava na prosperidade econômica e o mundo parecia distante de qualquer colapso natural. A tecnologia avançava, mas ainda não havia internet nem celular e a televisão era uma caixa de madeira. Havia amplo cenário para apostas. Muito já tinha sido descoberto, mas ainda existia um vasto mundo oculto a ser atingido e explorado. O homem vivia um sonho...
... Que não se concretizou ao passo que as profecias de futuro foram se desmanchando. O homem descobriu que foguetes caem, que os cientistas não são semi-deuses e que, muitas vezes, seus belos laboratórios não passam de fachada; descobriu, com a chegada da tecnologia esperada, que a alegria não veio acoplada e que, quanto mais domina o mundo, mais a natureza se torna indomável e ameaçadora. Voar há dez mil metros de altura e cruzar oceanos em horas, receber e enviar informação entorno de mundo instantaneamente, necessitar de uns poucos minutos para ter uma refeição pronta, obter amplo conhecimento de mundo e ciência... nada disso trouxe como resultado o que se esperava. Descobriu-se, por fim, que a busca insana por construir um futuro paradisíaco fora uma luta vã... E o que hoje nos é o futuro senão o caos apocalíptico? Um tempo de sombras e saraiva? O sonho de futuro almejado, tornou-se em terrível e indesejado pesadelo. Cursou-se o caminho errado nesse labirinto e, na pressa, não fora deixada migalha ou lã para possibilitar o retorno. Não há volta...
Quando, por fim, o homem chega no dia que tão ansiosamente esperou em sua luta para aniquilar a profunda tristeza e vazio espectral a tomar suas entranhas, no dia em que creria estar vivendo os despojos de uma vitória eterna sobre suas falhas e dores, vê que nada disso aconteceu, que nada disso é realmente possível, que ele é limitado demais para consumar tal projeto por si... e percebe que, num passado distante, vivera, de fato, a vida para qual fora criado.
Sim, tantos hoje se descontentam com a antigamente sonhada imagem de cordilheiras de arranha-céus e fitam as esquecidas e simplórias cabanas de sapê. Se descontentam com as florestas de concreto que tomaram o horizonte e relembram, em sua memória genética, dos tempos em que perambulavam em amarelados bosques outonais. Podendo cruzar o mundo em uma semana na máquina voadora sonhada desde a Grécia Antiga, muitos estão preferindo os tempos em que cruzar a Bretanha levava um trimestre. Podendo navegar num suntuoso cruzeiro, têm seu coração a palpitar com a imagem de uma caravela a desafiar as ondas de um mar tenebroso.
É claro que nossa visão de passado é um tanto romântica, mas, convenhamos, esse sentimento, essa quantidade cada vez maior de jovens que caminham com uma visão retrógrada de mundo, indo contra a tendência de pouco tempo atrás, só pode indicar uma coisa: não fomos feitos para o mundo que construímos! O homem ergueu sua própria arapuca ao tentar consumar um sonho vão... e encontrar alegria eterna com suas próprias forças, reencontrar sua essência, aniquilada pelo Pecado, sem o apoio de Deus.
Eu, por exemplo, sou um jovem dessa fração de minha geração à vislumbrar com mais entusiasmo o passado glorioso do homem do que nosso pesadelo atual, vislumbrar aquele velho mundo, que caminhava ao curso da natureza e autenticidade, feito de pessoas espontâneas, nutridas por uma vida completamente entregue ao mundo natural... enojo-me com a idéia de nosso mundo hoje: sintético, plástico, falso... um império erguido sobre um sonho arruinado, um império erguido sobre falsas esperanças, um império erguido sobre a mentira!
Não é por nada que adentrei, aos treze anos, no mundo fantasioso de World of Warcraft e que sentia taquicardia ao ouvir a música do menu. Não é sem motivo que me deleitava nas caçadas virtuais, abatendo lobos e ursos com minha espada ou nos ainda mais envolventes conflitos contra outros jogadores da facção inimiga. Era um mundo fantasioso, mas com uma dose grande de medievalismo nas cidades, nas armas, vestimentas, músicas e em todo o cenário natural. Ali, digamos, sentia-me em casa. Também não é por nada que, quando paro para ouvir música, sempre seleciono as instrumentais e orquestradas, ou que meus planos de fundo nesse computador sempre envolvam arte pintada de paisagens ou guerreiros... também não é por nada que meu blog é esteticamente assim. Nem preciso falar dos épicos medievais. Há algo em mim, e outros muitos, que faz o passado resplandecer por sobre o futuro negro que é esperado para este mundo. De certo modo, é um escape. -Chega a ser engraçado eu usar de tanta tecnologia como um portal para o passado...
Tudo me leva a crer que o homem foi feito para o campo, para a cavalgada, para a batalha... e que nosso mundo tem se tornado uma prisão terrível para nossa essência como ser. Eu simplesmente não consigo conceber que o mesmo ser que construíra as pirâmides com instrumentos toscos e rudimentares, que se encontrava às dezenas de milhares para sangrentas batalhas, consiga se rebaixar ao nível atual, se aprisionando o dia inteiro em uma cadeira de escritório, depois enfiado num carro, privado de sol e vento para, então, confinar-se em um apartamento. Isso é decadência, isso é terrível!
Apesar da miséria do mundo medieval, muitos largariam tudo para estar nele - e eu seria muito tentado se tivesse a oportunidade de fazê-lo. É aquela velha história: "melhor um dia como tigre do que mil anos como cordeiro". A vida de um tigre envolve, sem dúvida alguma, uma quantidade incontável de fracassos e lutas ferozes, que resultam em incalculáveis marcas, ao contrário da vida de um cordeiro que pasta, dorme e segue a manada. Mas é melhor, mesmo com toda a dor e sangue, ser como o tigre e correr como rei entre o bosque, caçar e alimentar-se do fruto de seu esforço, ter visível o resultado do trabalho realizado por suas garras. Essa idéia cabe muito bem se compararmos o homem medieval a nós... se compararmos os tigres da Idade Média com os cordeiros assustados e acomodados que somos.
De que vale uma vida extremamente segura, numa cúpula impenetrável, se não se pode mais sentir a adrenalina que só uma caçada com cães poderia transmitir? De que adianta enfiar-se num automóvel e voar à duzentos km/h em uma rodovia e não sentir a brisa nos bosques, perfumada com o pólen primaveiril, enquanto se cavalga? Não sentir o cheiro, o calor e o poder a exalar de um corcel? De que adianta cruzar o país em uma hora e não apreciar com tranqüilidade a paisagem do ermo no outono, enquanto se vai de uma vila a outra no passo de uma carruagem e dois bois?
... De que adianta tomar banho na temperatura ideal e com uma infinidade de produtos e nunca sentir o frescor e a correnteza de um córrego? De que adianta ouvir a mais sofisticada música eletrônica e não poder atentar para as sinfonias da natureza, do vento rasgando nas folhas das árvores, de uma infinidade de aves de canto, das cascatas de um riacho? De que adianta ir assistir um grande show de rock, mas nunca ouvir o badalar da pequena igreja de um vilarejo, a ecoar pelas encostas de montes próximos?! De que adianta morrer na alta idade, sem deixar legado algum, e não ter tido a oportunidade de empunhar uma lança e um escudo e sentir o calor e a atmosfera de indescritível poder que só um campo de batalha no limiar de um conflito pode transmitir?
... De que adianta fazer uma cruzada em prol do ateísmo e viver inseguro, não ter satisfação e conforto advindos de uma fé sincera? De que adianta enviar uma mensagem à dez mil pessoas instantaneamente por e-mail e não ter a oportunidade de trabalhar numa obra que durará infindáveis gerações? Viver uma rotina insana e estressante e nunca ter conseguido ficar semanas a fio trabalhando encima de uma belíssima e eterna escultura em madeira? Meu coração palpita. Valeria a pena padecer fome e doença para viver no passo das estações, acompanhar a queda de cada folha de uma árvore no outono, o desbotar de suas flores na primavera e de seus frutos no verão. Plantar e colher, construir, criar, produzir e ter uma grande e unida família - onde está tudo isso? Escoou-se como chuva nas montanhas.
O homem, sem dúvida, foi feito para isso. O homem foi feito para ser tigre! O que o homem medieval fazia em sua curta vida está muito acima do que nós, meros e covardes cordeiros, fazemos na nossa longa... muitos de nós estão crescendo sem nem ao menos conhecer a morte ou a concepção da vida, o que num ambiente campestre são fenômenos constantes! O homem está se excluindo da natureza, se afastando e, por fim, endurecendo-se, tornando-se mais frio e mecânico, sintético, fraco emocionalmente, limitado!
A infância de nossas crianças está morrendo. Seus brinquedos, livros e estímulos beiram o retardo, inibindo a imaginação. As pressões sociais e a ignorância dos pais e irmãos, aniquilam sua inocência e as fazem conhecer demais antes da hora certa. Não são estimuladas a amadurecer, mas, mesmo assim, recebem informações típicas de pessoas maduras - isso só pode resultar em graves problemas psicológicos. No passado, havia todo um ensino de moral, disciplina e hierarquia, estímulo ao brincar, mas, também, ao amadurecer, presenciando caçadas ou tendo de lidar com ferimentos e doenças.
... Era assim que devia ser hoje, só assim se formam adultos igualmente fortes e estáveis - e é pela falta disso que se vê uma quantidade cada vez maior de madames em corpo de homem ou homens em corpo de madame.

Apesar de todo um peso machista por sobre suas costas, as mulheres, certamente, também eram mais felizes e sóbrias no passado, quando, apesar de carregarem esse tal peso, podiam contar com um homem que suportava o peso de toras de madeira, blocos de pedra, machados e lanças, sustentando e trazendo segurança ao lar. A mulher também participava do processo de produção, auxiliando no campo, no preparo dos produtos a serem vendidos e consumidos e, é claro, na transmissão de amor e cuidado aos pequenos. Hoje padece de uma destruição voraz de sua feminilidade, adentrando o universo unissexual, tentando enveredar-se no mesmo caminho do homem, deixando de lado seu papel essencial e insubstituível de mãe. Abandonando a antiga e honrada princesa que fora, para se tornar uma escrava do sistema ou objeto sexual. Além de deixar, em parte, sua missão mais nobre, também desautoriza o homem na dele... fazendo com que as crianças não a vejam mais como fonte de amor e conforto e o pai como provedor e protetor. Sem dúvida, isso confunde. Toda a boa e velha concepção de família se perde.
No final das contas, quem mais sofre com as mudanças sociais é o homem. Aquele que carregou uma espada por milênios a mais do que o fizera com a espingarda e a espingarda por séculos a mais do que o mouse de computador, não pode, simplesmente, se acomodar. O homem é guerreiro por natureza e essa marca está inata, intrínseca em sua essência. Sem grande estímulo, guris pequenos já se imaginam guerreiros. O homem é como uma fera do campo: precisa de espaço e liberdade, permite-se gastar dias à fio procurando uma presa para alimentar a prole e, enquanto o faz, prefere a solidão, onde pode se expressar livremente. Sim, o homem é uma besta selvagem e precisa do ermo para colocar as coisas no lugar, precisa do exílio. A sociedade atual tem, cada vez mais, aprisionado nossa natureza genuína, tentando encadear o guerreiro que somos dentro de uma jaula e nos cercado com multidões, como se em um zoológico, impedindo-nos de ter, além de nossa liberdade de caçar o sustento, o tempo de exílio. Cada rugido, cada levante, é repelido com a ponta afiada de um bordão... nossa juba foi cortada e qualquer traço de nosso velho reinado que se torne evidente é, logo, aniquilado. Os dentes e as garras foram arrancados, pois ofendiam os novos ditadores(as), sendo símbolos do "machismo" da velha sociedade patriarcal.
Um dos poucos lugares em que o homem ainda pode exercer seu papel de liderança como rei é a estrada, o trânsito, e isto também está se perdendo em nome da "igualdade". Alguns foram tão fortemente amarrados e surrados que preferiram abandonar sua essência masculina em troca de uma caricatura de homem, uma sátira, afeminando-se. Outros, porém, ainda não abriram mão de sua natureza de caçador, de rei, resistindo entrincheirados em uma fortaleza interior, onde ainda residem os velhos e bons sensos de honra, companheirismo e sacrifício, típicos daquele que por milênios uniu-se aos milhares em batalhas e campanhas, onde encontrava seu lugar, aquilo para o que foi feito.
Talvez eu queria voltar ao passado também por isso... não fui educado à moda atual, para ter minha masculinidade enjaulada, pelo contrário: minha criação em casa fora, creio eu, a melhor possível para a formação de um homem, com um pai caçador, supridor e íntegro, uma mãe dedicada e sábia, um ambiente de verdadeira família, uma casa simples, mas rodeada de árvores com balanços, sem esquecer do convívio intenso e íntimo com animais, de pombos a cavalos, com os quais convivia e me divertia ao lado de meu irmão mais velho e minha irmã. Isso tudo, paralelo à uma orientação cristã exemplar e estímulo ao pensar e à criatividade.
O fato é que vivo esses dias tenebrosos e para os quais pareço não ter sido feito... quem sabe vivo no mundo para o qual não fui feito. Mas estou aqui, perante o maior desafio da humanidade e do homem: enfrentar seu próprio colapso. Eu tenho a solução, eu tenho a reposta, que é a fé em Cristo, aquele que estava quando tudo foi criado e quando o ser humano caiu pelo Pecado, abrindo um abismo em sua alma. O mesmo Cristo que veio ao mundo há dois milênios para oferecer uma oportunidade de atravessarmos esse abismo e reencontrarmos nossa natureza genuína, e que nos chama, hoje, para lutar. Essa é a reposta, essa é a solução, essa é a minha luta! Que o mundo me escute, como voz solitária no ermo! Há uma solução!! E há o tão almejado Paraíso, basta se submeter, humilhar e dedicar ao Criador!
Natanael Castoldi

Assista um vídeo de batalhas de filmes épicos para continuar no clima:

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2 comentários:

  1. Muito Bom, primeira vez que entro no blog, ja esta nos favoritos!

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  2. Opa!
    Vlw cara! Fico feliz em saber que tem gostado!! Abraço!

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