De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Necrópolis

Volto novamente e extremamente tocado pela letra de uma música bem conhecida, mas que poucos compreendem, Carmina Burana, Carl Orff. Escute-a e leia a tradução no vídeo abaixo antes de prosseguir.


Necrópolis, a cidade dos mortos. Carmina Burana, Oh Fortuna, vem a exemplificar de forma perfeita a situação do homem em nossos dias, a dor da tristeza, a confusão, o caos, a desilusão. Nada pode ser mais cruel do que tentar viver quando se está morto. Nada pode ser mais decepcionante do que achar-se vivo, quando, na verdade, jaz em podridão. Nada há de mais terrível do que nutrir uma falsa esperança de vida ideal, quando já se está desfalecido para qualquer felicidade duradoura. O esforço do homem, longe de Deus, para encontrar a vida e a alegria é vão, sem dúvida, é como subir uma escada interminável, o que, além de vão, é um esforço vil, já que apenas desgasta e consome. Imagens -> aqui.
Nesse âmbito, para o incrédulo ou falso cristão, até mesmo buscar a alegria mata, até o nutrir de um nobre desejo desgasta e envenena. O ramo arrancado da árvore só consegue persistir algum tempo, aniquilando suas próprias energias e destroçando sua própria matéria. Apenas absorvendo de si mesmo, resiste... mas para quê? Para morrer de sequidão e tornar-se pó em pouco tempo...
... Pensando mais profundamente, um ramo cortado da árvore, já está morto, pois é esse o único resultado dessa situação e, morto, enquanto seca, é levado pelo vento, lançado involuntariamente para os rochedos, para o córrego violento, para às chamas ou consumido por pequenos seres, até nada mais ser. Não se controla, é peça manipulada e que sempre tende aos caos absoluto. Talvez tão triste quando a eternidade caótica, seja a curta vida em agonia esperando-a.
Sim, esse é o homem. Decidiu desprender-se de Deus, mas como criatura dEle, nada é senão morte e caos, sombras e pó, em tal situação. O homem, como ser além de material, espiritual, caminha para o colapso eterno, se desligada sua essência, seu espírito, do Deus Eterno. E assim prossegue a humanidade.
Que terrível dor! Distante de Deus, o homem perdeu os atributos típicos dEle, perdeu muito do que já fora e que só pode ser nEle. E um vazio espectral se abriu no seu interior espiritual. Uma fenda abissal feita de dor, medo e tristeza. Sim, tudo o que movimenta a humanidade se concentra na luta para aniquilar e preencher esse abismo sem fim, o regresso ao Éden -sobre o que já falei nA História do Mundo. O medo leva o homem a buscar segurança e estabilidade em outras pessoas, profissões e riquezas, mas nada disso realmente satisfaz. A dor ele tenta curar nos relacionamentos e na realização de sonhos, os quais não passam de turvas e arenosas perspectivas. A tristeza ele tenta aniquilar em festas e perdição, que o anestesiam, ou projetando um futuro utópico. A vida mostra-se aos olhos como uma pérola alcançável, mas quando o individuo estende a mão para tomá-la, ela não está mais lá, sobra apenas o espectro. Os projetos de futuro, afim de saciar o Vazio, não passam de miragens no deserto e a aridez envereda a vida-morta do homem de seu nascimento ao dia em que conclui sua vã estadia aqui.
Tão triste vida! E não há tempo na história em que o homem estivera tão profundamente abatido. Na matéria Sanidade Integral, pelo professor Werner Haeuser, do curso de teologia que estou fazendo, ATOS, tenho aprendido muito sobre a realidade espiritual do homem. Algo que me chamara muito a atenção na última aula fora sobre as duas facetas de nossa vida que caminham paralelamente e nos definem: a parte externa, que todos podem ver nos define aos olhos de terceiros e a parte interna, que fundamenta a imagem que transmitimos. As duas, necessariamente precisam equilibrar-se e deve haver um cuidado amplo para ambas, atenção especial e tempo de reflexão sobre as duas, pois de nada vale um alicerce oculto sem uma casa por sobre ele ou uma raíz enterrada, mas sem uma árvore a ser vista; da mesma forma, é impossível que perdure uma casa sem alicerces ou uma árvore sem raízes. Como manter-se-á em pé? Como irá se nutrir?
É exatamente isso que tem feito com que o homem moderno caia em dor ainda mais profunda do que seus ancestrais. A sociedade de hoje se desenvolve, mais do que nunca, em nome da imagem, em prol do status, do que pode-se mostrar aos demais. Toda a indústria trabalha em função disso. E o cristianismo tem se enveredado nessa triste realidade. De certo modo, sugar ou diminuir os demais parece uma alternativa "interessante" para o homem que, sem uma perspectiva real de felicidade duradoura, alegra-se vendo que há pessoas em uma situação aparentemente pior.
O mundo frenético e o turbilhão de mudanças que percebemos, aliado ao extremo apego à "imagem", tem levado o homem ao colapso, aniquilando seus alicerces, suas raízes. Sem tempo, mediante as inúmeras novidades e adquirir ou aceitar, os olhos humanos estão sempre mirando algo diferente e não conseguem se focar em nada por algum tempo. Não há mais tempo para reparar em algo, para analisá-lo, para refletir sobre ele. O homem está numa eterna corrida contra seus irmãos, afim de alcançar a "pérola" antes deles. Apenas foca-se o vão objetivo vindouro e não se presta atenção no que há pelo caminho. Onde está o camponês que trata com zelo de cada metro quadrado de sua plantação? Que pára e observa os movimentos delicados de uma borboleta no ar ou de um beija-flor a alimentar-se? Onde está o jovem que pára apenas para ouvir boa música e extrair dela sua beleza, sentir na alma sua mensagem? Onde está a senhora que se senta dias inteiros na sacada bordando uma obra de arte para vestir? Hoje ainda vejo nos mais antigos algumas dessas características, mas a juventude, sem dúvida, irá fazer tudo isso se perder.
A natureza a ser observada, não mais transmite mensagem alguma, não mais toca o indivíduo... um campo belo e ensolarado não representa nada além de um bom local para jogar futebol. Analisar o vôo de uma borboleta ou as cores de uma flor do campo? Hoje isso é tido como algo "feminino demais" para os machões - que já estão vestindo calças feniminas ou ficando uma hora por dia diante de um espelho. A música simplesmente perdeu sua beleza, ninguém mais pára para ouvir, serve apenas de acompanhamento... e se pararmos para ouvir as músicas que circulam por aí, nada além de veneno e caos fazemos penetrar em nossos ouvidos. Parar por algumas horas para desenhar, escrever, refletir, criar... é perda de tempo. Tudo o que toma algumas horas é perda de tempo. Tudo o que realmente constrói, que atinge positivamente o espírito, é perda de tempo. Até o casamento é perda de tempo.
Lembro-me de um filme que vi uns meses atrás, O Guerreiro Silencioso. Sei porque não fez grande sucesso: é monótono, silencioso (como o próprio título diz) e introspectivo. Meu irmão (MinasDraug) comentou, em outras palavras, assim que o assistimos: "Como é bom ver um filme assim, que destoa do comum." E, de fato, tal filme está longe da norma. As emoções das personagens não são explícitas, não há ação e violência ininterrupta, tampouco sexo ou apelo a sensualidade. A trilha sonora não é o foco, ela é simples e pouco chamativa. Nem tudo se explica, é preciso refletir. O que fala mais alto são as ações das personagens, os cenários a observar e o que acontece nas entrelinhas da história. Para quem vê são cerca de duas horas de relativo silêncio e observação em meio ao caos do dia-a-dia. E poucos parariam duas horas de sua vida para algo assim... até porque, tendo tudo explícito, não havendo necessidade de reflexão, o homem moderno está com o cérebro atrofiado demais para conceber a profundidade de coisas assim.
Bom, se a única coisa que o homem hoje consegue reparar é na cor de seu cabelo, na maquiagem, nas sua e na roupa dos outros, há de se esperar que, em hipótese alguma, pare para observar e analisar o âmago de sua alma, o que exige mais tempo, esforço e não tem influência direta no objetivo principal: aparecer. Enquanto o homem antigo passava dias em função de uma única atividade, sem dúvida conseguia e tinha tempo para refletir sobre si mesmo e, também por isso, acabava rumando com fervor os caminhos de alguma religião: pois quem, após se analisar, não teme a si mesmo?
Enquanto o mais belo tende a ser externado, questionamentos e dores são aprisionados e nunca analisados com profundidade. A busca por prazeres momentâneos e status através de atos e da imagem, são como pedras a obstruir a passagem que leva ao interior de nosso ser. Como as raízes apodrecem e são corroídas pelo tempo e pelos vermes da natureza caída, esquecidas nas galerias da alma, nos porões do ser, torna-se cada vez mais difícil e duro mantér uma imagem verdadeira, então se opta pela confecção de máscaras e véus, baseados em mentiras frágeis como seda, mas podres como esterco. Quando alguma situação para o qual a mentira não fora arquitetada, se abate sobre o ser, esse véu se rasga para revelar a monstruosa criatura que se formou no ventre esquecido do indivíduo.
Sim, quando não se olha o interior, inevitavelmente concebemos e deixamos se desenvolver uma criatura terrível, um monstro apto a consumir nossa carne e nos devorar de dentro para fora. Esse ser que se desenvolve no ventre, cresce e se movimenta, agita-se, bagunça nossas entranhas, estraçalha nossa essência, desfragmenta nossos órgãos. Não é mais do que uma grande criatura a vagar e imperar no vazio trevoso, no nebuloso interior da alma desligada de Deus. Seus gritos, seu ódio... sua fome em devorar-nos é o que produz toda a dor absurda e indescritível que nos faz correr insanos atrás de uma cura, que nos faz apostar em infindáveis meios que prometem alegria e paz. Mas é tudo vão. Longe da glória do Pai Criador, não há vida e o caos se alastra no âmago, no cerne da alma. Os cupins não cessam de devorar o interior do tronco de uma árvore se eu mudar a cor da casca, colocar alguns adereços bonitos nos galhos ou pregar uma placa dizendo: "proibido cupins". A questão é interna e está longe do alcance de minhas mãos.
Enquanto o externo é tratado com ouro e perfumes, o interior recebe toda a podridão, tudo o que não presta, tudo o que mata e que deve ficar oculto. Um pântano se forma, um aterro de entulhos e, por sobre o lixo, tenta-se erguer uma casa colossal e bela... que, não tardando, afundará por sobre os falhos alicerces. O homem de hoje, voluntariamente, tem colocado toda a morte para dentro, afim de garantir uma imagem externa livre de rugas ou máculas. Tenta lançar as feridas visíveis para o interior invisível. Envenena as raízes, para evitar que as folhas se enruguem pela peste... mas não percebe que a morte virá de forma inevitável ao destruir seus próprios fundamentos, aquilo que realmente o nutre. De certo modo, essa destruição da essência se reflete nas filosofias relativistas, na arte moderna e nas ciências céticas.
Se vejo uma sociedade desligada de Deus e encadeando seu interior numa masmorra intransponível, vejo uma sociedade de mortos. E padeço de um sentimento profundo de dor pelo que presencio: homens baseados em nada além de sombras e pó, que se esvaiam como areia ao vento. O que é a vida humana? Deveria ser isso? Algo tão grande, deveria ser tido dessa forma?! Valer tão pouco?
... O homem não fora criado para constituir uma necrópole ou a Niflheim nórdica. Não deveríamos habitar o mundo dos mortos! Mas habitamos. E depois desse mundo, há um ainda pior para os incrédulos, que concebemos como Inferno, onde a "folha" tornar-se-á, por fim, em nada, aniquilada completamente. Como cristão, eu conheço a saída, a cura, a Vida e vivo-a. Estou ligado ao Deus Eterno, como ramo na árvore. Recebo dEle o alimento para o espírito, não pratico autólise para sobreviver. A vida em meu espírito, o sol em minha alma, diretamente reflete em vida no exterior, sem precisar de máscaras nem mentiras. Tenho alegria hoje e perspectiva de tê-la no futuro e pela eternidade!
Na vida que levo, na tranqüilidade, fora da corrida insana para o Abismo, tenho tempo para analisar, para reparar e para compreender muito de meu interior. Peço-te, faça isso também. Não te digo para, de imediato, buscar a Deus se você não o deseja, primeiro analise-se, conceba a sua realidade interior e verifique, mediante o caos que encontrar, o que pode considerar como solução - se é que deseja solucionar o problema. O que eu faço por ti é sugerir o que me tem dado vida e que a ti também dará, que é o Senhor do Universo.
Natanael Castoldi

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2 comentários:

  1. Realmente nos é espantoso para e olhar como a sociedade se arrasta para o abismo sem fim de onde jamais se retorna. Não posso dizer que meu jardim está florido e cheio de tanta vida assim como gostaria porque de certo que tropeço e muitas vezes de cara no chão posso ter me encontrado, mas eu conheço a saída sempre há alguém com a mão estendida pra me levantar e me ajudar na caminhada. Os vales da vida sempre tem algo a nos ensinar e creio eu que minhas lições estão sendo aprendidas ao passar dos dias. Sinto-me feliz por esse ângulo que você divide conosco e tenho que parabenizá-lo pela construção bem elaborada e sobretudo pela facilidade com as palavras saiba que sempre estarei por aqui fazendo parte deste algo maior que nos faz refletir ainda mais na vida.

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  2. Diego. Fico feliz por estar acompanhando e valorizando meu trabalho, muito obrigado pelo reforço ao que escrevi no teu comentário. Sabe que sempre é bem-vindo aqui, faço questão de tua presença. Obrigado pela força! Por incentivar-me, também fico feliz por tê-lo feito a ti também.

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