De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, nós fomos testemunhas oculares da sua majestade. 2 Pedro 1:16

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Nas areias do Coliseu

Noutro dia, tendo uma noite de folga, resolvi inspirar-me assistindo o magnífico filme Gladiador. Além de toda a mensagem sobre corrupção, dominação da massa -"pão-e-circo"-, a luta até a morte por uma causa... consegui ver-me, como cristão, nas areias da grande arena, que é esse mundo, sempre colocado para enfrentar inimigos aparentemente maiores do que eu dos quais, se mantiver minha postura, não poderei fugir, apenas combater. Bom, essa é uma interessante mensagem, mas por si não valeria uma postagem própria, questão que fora bem solucionada agora a pouco, enquanto lia o livro Apolgética Cristã, Israel Belo de Azevedo, da editora Vida Nova.
No primeiro capítulo do livro falava-se sobre o cristianismo, nas essência, não ser a luta política e econômica desenvolvida ao longo da história pelos cristãos, que o mal usaram, propagando violência em seu nome, afim de obter lucros humanos. Dentro da seqüência lógica de fatos que o crítico da fé deve considerar, havia um tópico dando ênfase aos cristãos que morreram em nome da paz, que, literalmente, jogaram-se na boca do crocodilo para evitar que ele engolisse uma criança ingênua (apenas uma figura). Dentre estes está William Wilberforce (1759-1833), que lutou contra a escravidão; a família Ten Boom, que refugiou pacificamente os fugitivos do nazismo -salvando a vida de mais de 800 judeus- e, para tal, sacrificou na prisão 4 de seus membros...
... Mártin Luther King Jr. (1929-1968), que lutou até a morte pela causa dos negros norte-americanos... Mas, dos exemplos, o que mais me marcou fora o de Telêmaco (século 5):

Um monge de nome Telêmaco, ao chegar em Roma, presenciou um espetáculo de gladiadores, regado à violência e brutalidade. Discordando do que vira, não se conteve e, numa atitude desesperada, lançou-se dentro da arena gritando: "Em nome de Cristo, parem!" Não demorou para um gladiador ferir-lhe a barriga. Essa atitude promoveu um silêncio mortal no local, encerrou o espetáculo e esvaziou o Coliseu. Desse dia em diante, não houve uma única disputa de gladiadores em Roma.
Meus olhos brilharam ao ler o trecho sobre Telêmaco. Imaginei a cena e involuntariamente me questionei: "eu teria coragem de fazer isso? Os cristãos de hoje têm feito isso?" Logo conclui: é exatamente isso que o cristão deveria fazer nesse mundo e não faz!
Pense comigo: concebemos, bastando uma rápida reflexão, que tudo o que a humanidade faz gera a morte. Um indivíduo só consegue se erguer se pisar, se sugar a força vital, de outros. Nosso mundo caminha numa vereda regida pela dominação e atrito. Vejo, nesse âmbito, os incrédulos, os governos e demais instituições de nosso mundo, como gladiadores dentro de uma arena, matando-se por causas vãs. Todos os traços do mundo secular rumam para a morte, da insana busca por sucesso profissional à libertinagem das festas. Obras sem sentindo, sem futuro. Violência intelectual, física e espiritual. Infindáveis prisões. Lutas pífeis, frutos da errônea busca humana pelo Paraíso Perdido, pelo reconquistar do que já fôra...
... A Igreja, observando esse caos, o campo de mortos que cada vez mais se expande, tende a excluir-se da realidade, isolar-se em suas paredes de pedra, entrincheirar-se em seus templos - ou, é claro, deixar-se contaminar completamente.
O exemplo de Telêmaco serve de parâmetro para muito do que a Igreja deve fazer. A Igreja, pra início de conversa, jamais deve se isolar do mundo, mas estar nele sem pertencê-lo, estar dentro da arena, afim de tocar a vida daqueles que caminham para a morte. Ou você pensa que quem luta dará prioridade a um chamamento distante, antes do defender-se e revidar na batalha que lhe envolve? -Romanos 12:2.
... A menos que você penetre no conflito, jamais conseguirá chamar a atenção.

A Igreja, iniciada por Cristo, deve seguir o seu exemplo: O Salvador perambulou num mundo arruinado em trevas profundas e espessas, afim de levar a Boa Nova aos cativos. Jesus esteve na Arena, em meio à leões, tigres e gladiadores e ali desenvolveu sua obra até o fim. Telêmaco seguiu o exemplo de Cristo, esteve onde percebeu ser necessário estar e, para tal, não poupou ousadia e determinação. Até o fim. 1 João 3:13.
O martírio de Telêmaco mostra-nos, também, como deve ser a nossa postura em relação ao que concebemos, com base na Palavra, como errado, alarmante, nocivo para os próximos, aquilo pelo que os vemos se degladiando. A Igreja não deve, em hipótese alguma, permanecer omissa perante o que é mal, mesmo que, para tal, tenha de enfrentar poderes aparentemente muito maiores e, nitidamente, hostis e perigosos. Se minha nação for favorável ao aborto -o que está perto de ser-, devo lançar-me, corajosamente, no epicentro da questão e desafiá-la sem cerimônia e sem atentar para o poder colossal desse meu oponente. O cristão não deve ser seletivo quanto a opor aquilo que a Palavra escancaradamente opõe. Quando algo está errado, os fatores de poder, autoridade e hostilidade do oponente não devem ser considerados. Telêmaco lançou-se numa arena tomada por gladiadores e ocupada por, quem sabe, cinqüenta mil espectadores. Ele, sem dúvida, não atentou para as provações que lhe abateriam, apenas viu o problema e se opôs, buscando mudanças. -Mateus 23:34.
A Igreja deve ser o diferencial. Em meio aos milhares, Telêmaco fora diferente. Em meio à incontável multidão, o monge representara bem sua oposição, sem deixar-se levar pela opinião, pelo fervor daqueles que aplaudiam o espetáculo. Manteve-se firme em seus fundamentos cristãos, anulou-se dos gritos eufóricos da multidão e marchou para a areia do Coliseu. Ele, certamente, não planejara obter lucro pessoal com aquilo, tampouco fama. Ninguém anda para a boca de um monstro sem um objetivo nobre. Ele estava no vale de morte que era o Coliseu, cercado... foi ali que deu sua vida pela causa cristã.
Infelizmente, nossa igreja hoje tem caminhado com fundamento no lucro e no comodismo, deixado-se levar pela massa e, logo, pelo "pão-e-circo", deixado-se contaminar pela morte, afim de evitar problemas e, ainda, lucrar, inflamado-se pelo apelo da multidão, promovendo espetáculos de perdição. A igreja deixou de fazer a diferença, pois não é mais a voz que se opõe! -Mateus 23:26 e 28.
Quantas palavras Telêmaco precisou dizer? Apenas cinco antes de ser morto, o que falou mais alto fora a sua postura e seu exemplo. É na simplicidade e boa conduta que a Igreja se expande de forma saudável e desafia o mundo. - 1 Pedro 1:16.
Telêmaco deu sua vida não pela igreja, pela glória da instituição, mas o fez afim de atingir os incrédulos e evitar a morte dos próprios gladiadores, que, de fato, cessaram de lutar. Atualmente a igreja tem trabalhado para seu próprio lucro e deixado os incrédulos à mercê de sua pífel sorte. Toda a movimentação da igreja tem se dado em nome de alguma vantagem para a instituição, todo o esforço se contém no auxílio dos membros. Treina-se líderes para servirem, exclusivamente, à igreja local e acha-se terrível a idéia de que este faça a Obra noutro lugar, esquecendo-se de que a Igreja é de Cristo, não de homens. -1 Coríntios 12:27.
A omissão da igreja de nossos dias demonstra, muito bem, a perda do antigo senso de sacrifício. Ela não se opõe mais ao mundo, visando seu conforto e segurança, enquanto permite que milhões de não-cristãos caminhem para a desgraça e eterno caos. O que há de nobre nisso? O que há de Cristo nisso?! Matin Niemöller (1892-1984), um pastor batista e um dos primeiros opositores de Hitler, sendo preso por seus sermões calorosos e solto em 1945, desferiu palavras seríssimas sobre sua indignação para com a omissão da igreja protestante alemã:
"Primeiro, eles investiram contra os comunistas, mas eu não era comunista e me calei. Depois, investiram contra os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum deles, e me calei. Depois, eles investiram contra os judeus, mas eu não era judeu e me calei. Quando investiram contra mim, não havia ninguém para me defender."
Telêmaco nos dá outro exemplo daquilo que a igreja deveria fazer: a diferença onde tocasse. O monge que deu sua vida, fez a diferença através de seu ato de martírio: sua ousadia fez com que o jogo em questão fosse encerrado e, também, produziu um fruto duradouro: o cessar perpétuo das lutas no Coliseu. Não sei se esse finalizar das atividades do Coliseu fora apenas influência dele, mas creio que fora um ato decisivo. Telêmaco deixou uma multidão inteira calada, tocou profundamente os espectadores, também evitou a morte e a contaminação pela morte em/de dezenas de milhares. Sim, sua ousadia, sua passagem por Roma, fez a diferença! Como a presença de Davi nos exércitos de Israel mudou o cenário da guerra contra os filisteus. 1 Samuel 17.
Outra lição que daqui tiramos é que Deus não precisa de números, nem riquezas materiais. Ele precisa de um ou outro indivíduo que queria ser usado e que esteja determinado a fazer tudo em nome dEle! Inclusive morrer. - Juízes 7.
O impacto que a Igreja deve causar nesse mundo deve vir por meios que fujam da prática secular. O impacto que a Igreja causa onde se encontra está no amor, não na violência - seja ela intelectual, física ou espiritual. Telêmaco fez a diferença com sua ousadia, com suas palavras e com sua morte. Se tivesse pulado na arena com uma espada em mãos, afim de matar os gladiadores para o combate terminar, sua mensagem de paz não teria efeito algum e, tampouco, seria lembrado como exemplo cristão. O diferencial de Telêmaco e que, sem dúvida, fora aquilo que mais tocou as multidões, fora sua atitude de lançar-se "à cova dos leões" desarmado. Sua mensagem de paz concordara com sua atitude pacífica - aqui entra mais uma questão: ele não foi hipócrita, ao contrário do que muito se vê nas igrejas por aí. - 2 Timóteo 4:7.
A fé de Telêmaco deve nos servir de exemplo. Para ele a vida aqui, na Terra, nada mais era do que um prefácio da Vida Eterna e esta, de valor muito maior. Pela sua fé em Deus, lançou-se corajosamente no epicentro do conflito e deixou sua marca de mudança. Sua fé, para muitos, deve beirar a insanidade, mas o fruto dela reverte, analise, até hoje, já que eu estou falando disso agora. A questão é que hoje, ao que parece, os cristãos não confiam mais tanto em Deus, não tendo plena certeza da Vida Eterna e achando mais seguro investir na vida mortal que possuem agora. Por isso nada tem mudado na sociedade com o avanço do evangelismo. -João 3:16; Marcos 9:50.
Por fim, foquemos na entrega de Telêmaco: até a morte, na certeza de que ao fazer o que estava fazendo, morreria. Deixou todo o resto de sua vida de lado, em troca de um evento marcante e que lhe daria muito mais frutos para a eternidade. Isso também mostra como Deus vê a morte: não mais do que uma passagem, para o cristão, para a Nova Vida, além de ter permitido que Telêmaco morresse para servir como um exemplo milenar, um agente completo de mudança. Sem dúvida, é isso que mais tem faltado para os cristãos de hoje: um apurado senso de sacrifício, o construir para a eternidade, trocar as comodidades de uma vida mundana para formar e deixar um legado íntegro para as futuras gerações. É nisso que tenho tentado trabalhar. - 1 Coríntios 11:1.
Cristãos! O que está acontecendo? O bom e velho cristianismo parece esquecido nas areias do tempo! Mas a Bíblia que servira de apóio à ousadia de Telêmaco é a mesma que temos hoje. O problema está em nós, e a solução, ao alcance de nossas mãos! Sejamos honestos! O cristianismo só é de Cristo quando faz diferença! Quando se opõe! Quando muda realidades! E quando o mundo, hostil como uma arena, o persegue! O quanto de Cristo estamos sendo? Conceba que meia verdade não é passa de pura mentira... Sejamos cristãos completos! Lancemo-nos nas areias do Coliseu, onde está detida a humanidade em sua luta insana! Enfrentemos o mundo, enfrentemos o caos, enfrentemos aquilo que tem levado à morte milhões! Somos o único diferencial, a esperança de quase todos! Cravemos a Espada, a Palavra, nos corações daqueles que nos atacam! Se nos omitirmos, além de nosso próprio colapso, enviamos, voluntariamente, multidões ingênuas para o abismo. - Mateus 5:14.
Segue o vídeo de introdução do jogo Neverwinter Nights, que mostra o duelo noturno de um guerreiro com um minotauro, em ruínas no meio de uma floresta.

Natanael Castoldi

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